Translate

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Ah! Se meu quarto falasse...



Não adianta negar. Todo mundo carrega consigo alguma mania revelada tão somente quando se fecha a porta do quarto no hotel de destino. Eu queria ser uma mosca pra ver a mania de cada um. Mas, tenho que me contentar com “a fofoca” nossa de cada dia. Vou tentar relatar aqui algumas coisinhas que ouvi dizer, mas, pra não citar nomes vou fazer com que tudo o que escrevo, acontece ou aconteceu comigo:
“Eu” chego ao quarto e a primeira coisa que faço é jogar o sapato longe; ao mesmo tempo em que vou abrindo a camisa, primeira sensação de conforto. O banheiro me espera e mal tiro a meia, ou a calça para os homens, eu corro aliviar minha tensão na “patente” (nome que se dá, na minha terra, ao vaso sanitário), onde sentada mesmo já vou tirando o laço do cabelo, enquanto sinto a segunda sensação de conforto (Número 1 ou 2). Lá mesmo no banheiro invento de tomar banho na banheira e então começo a inspeção: olho cada milímetro daquela bacia de fibra, que teoricamente teria que ser branca. Então tento; veja bem: tento abrir o chuveiro. Isso porque algumas torneiras são uma incógnita. Em NY, por exemplo, na primeira vez que fui, “eu” não conseguia descobrir como abria aquele raio de torneira. Dei umas pancadas, virei o troço pra todo lado, olhei por baixo, olhei por cima e pra não passar vergonha de ligar pra alguém, resolvi tomar banho de bica. LINDA!
Sempre, quando lembro, tomo banho de chinelo e depois tenho mania de embrulhá-lo no tapete pra secá-lo. Ao sair do banheiro vou catando as peças de roupas deixadas pelo chão, porque minha pressa de sentar na “patente” não me deixou pegar antes. Tem uns que não catam nada não, do jeito que tiram fica. É cueca pra um lado, misturada com o quepe, ou lenço, calcinha e blazer. É uma coisa só.
Bom, mas, continuando: Quando saio do banheiro recebo aquele impacto gelado do ar condicionado, outra incógnita. Uma vez “eu” martelei o botão pra tentar desligar o ar e nada. Isso quando não acontece ao contrário: “eu” tento todas as alternativas possíveis pra ligar o ar e não tem jeito. No máximo ele exala um ar morno e “eu” isolada lá em Macapá no escuro tenho que atravessar os trapiches, com um monte de pererecas endemoniadas saltitando por todos os lados, pra chamar alguém do hotel porque meu telefone também não funciona.
Lá vou “eu” mudar de quarto de chinelo, penoir, bolsa e mala, aproveito e pergunto como liga a torneira. Enfim a paz. Vou tentar ligar a TV, putz, mas ela está na ante-sala e “eu” quero ver tv deitada na cama, o que fazer? Ah! Já sei, vou arrastá-la um pouquinho mais pra beira do raque. HUm, num deu. Mais um pouquinho, quase deu, só mais um milímetro e pronto “eu” consegui derrubar a televisão e arrancar todos os fios da NET. E agora, se “eu” ligar pra recepção eles vão querer saber o que que “eu” fiz. To ferrada. O jeito é tentar, veja bem tentar instalar tudo de novo. Liguei a tomada, beleza, funcionou, mas a TV, na linguagem caipira, ficou assim: “se eu via o vurto, não orvia a prosa, se orvia a prosa, não via o vurto”. O jeito foi desligar e tentar dormir. Veja bem, tentar porque assim que apaguei tudo e encostei a cabeça no travesseiro, comecei a ouvir um poc, poc, poc, poc. Tampei a cabeça e nada, virei de bruço, piorou, ai “eu” quero dormir e poc, poc, poc. Ligo na recepção: “Por favor, tem alguém martelando?” Não. Poc, poc, poc, poc. Será que este barulho é do que “eu”, quero dizer do que você está pensando? Não pode ser, porque fazia pelo menos uma hora que esse barulho era contínuo, ninguém é de ferro a esse ponto. Depois de muito analisar, “eu” descobri que era alguém correndo na esteira, pois a academia ficava bem debaixo do meu quarto. PODE?São tantas “minhas” manias, que ficaria horas contando porque quanto mais tempo “eu” tenho pra ficar no quarto, mais “eu” invento: Faço banho de creme no cabelo; pintura; máscara de pepino ou de La Roche-Posay no rosto; pulo corda; leio livro; assovio; canto; choro; durmo; assisto novela; como, como de novo; telefono, mando mensagem, recebo mensagem, mando de volta; faço depilação, ai, ai são tantas coisas. Faz o seguinte, me conta uma das suas que na próxima eu publico. Um abraçoooooo.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Revezamento 4X100

Se pudéssemos comparar a aviação com uma competição de atletismo, a Ponte Aérea seria a prova de revezamento 4X100m rasos. Depois de todo aquecimento (maquiagem), os atletas (comissários) recebem as instruções (briefing) do técnico (comandante) e vão para a pista (avião). Cada um recebe seu lugar no revezamento conforme sua velocidade. Os mais rápidos abrem ou fecham a prova. No caso dos comissários, as posições são determinadas pela antiguidade.
O preparo no “taco” de largada é muito rápido. Checa equipamentos; checa comissaria; checa livro de bordo; checa vídeo; prepara jornais; prepara balas; prepara café; esquenta o lanche; prepara bebidas; recebe o embarque. Quando o árbitro determina: “A seus postos...” no nosso caso... “Tripulação portas em automático”. Como bom atleta, você fica surdo nessa hora, concentrado e tenta encaixar os pregos da sapatilha no taco. Na aeronave, os olhos passam rapidamente em todas as travas de trolleys e na cabine para ver se todos os cintos estão atados. Quando o árbitro diz “pronto” e o comandante: “Decolagem autorizada”, o atleta levanta o quadril para melhor impulsão; o comissário senta o quadril para não ter impulsão.
Pouuuuu, tiro de largada. Vuuuuuu, turbinas aceleradas. E lá se vão os atletas a passos largos e os comissários a passos curtos, mas a velocidade é a mesma. Ritmo para todos. Muita pressa para alcançar a chegada e a torcida dizendo: “Vocês vão conseguir”, “vocês vão conseguir”. O atleta segura o bastão com entusiasmo para que não caia, o comissário atende o passageiro com dedicação para que ele volte sempre. “Aceita lanche senhora?”. “Alguma bebida senhor?”. “Café?”. E o atleta lutando contra o próprio tempo.
Entre São Paulo e Rio, por exemplo, são trinta minutos de ponte para servir e bem servir cerca de 170 passageiros. Monta trolley, serve todo mundo, recolhe tudo, desmonta trolley, guarda tudo. “Tripulação, pouso autorizado”. Lá embaixo tudo está preparado para a entrega imediata do bastão e para que a segunda etapa saia com a mesma velocidade, mesmo ritmo, mesmo trabalho, até que se vença a corrida na quarta etapa ou na quinta no caso da aviação.