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terça-feira, 13 de outubro de 2009

Dia das crianças


- BIQUIQUETA!!!!

- É bicicleta.

- BIQUIQUETA AULLL .

- Azul , isso mesmo.

Esta foi a reação do Vinícius quando viu sua bicicletinha. O olho arregalou e imediatamente tomou posse daquilo que era seu. Aliás, não soltou mais dela o resto do dia e para dormir teve que encostá-la no colchão. Isso me fez lembrar quando ganhei meu primeiro patins. Fui dormir com ele e minha mãe teve que tirá-lo de mim só depois que peguei no sono. Era um patins inteiro de plástico (correias, base e rodinhas). Cheguei a gastar as rodinhas de tanto que andei. Corria tanto naquela rua Antenor Ferri, que ninguém me segurava. Vários tombos eu levei. Meu joelho vivia em flor. Mas era uma delícia. Meu único sonho era poder ganhar um patins de ferro no próximo ano. (Correias de couro, a base de ferro e rodas de borracha). É porque lá em casa presentes só chegavam uma vez ao ano.

Lá em casa tínhamos limites, tínhamos hora pra comer, hora pra brincar e hora pra dormir. Conhecíamos bem a palavra dificuldade e por isso tínhamos alegria em esperar. Não ter muitos brinquedos nos desenvolveu a criatividade porque transformávamos qualquer coisa em brinquedo. Caroço de manga, por exemplo, depois de muito chupá-lo colocávamos pra secar. Ficavam lindas bonequinhas que dava até pra pentear o cabelo e fazer pintura. Sabugo de milho, dava lindos carrinhos. Bolinhas feita de barro eram ótimas pra acertar nossos alvos. Fora os pés de lata, pernas de pau e carrinhos de rolemã que queimavam o asfalto. Subir em árvores era minha especialidade, principalmente se tivesse algum fruto lá. Eu acho que o nada me ensinou a ter tudo.

E hoje, o que fazem e o que têm nossas crianças??? Têm tudo e não se contentam com nada.


quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Loucuras para chegar em tempo


Aposto que todo mundo já fez alguma loucura para conseguir chegar em tempo de não levar um N/C. Recebi algumas histórias que valem a pena ser relatadas. Aqui vai a da comissária Carla Lessa, que não trabalha mais conosco, mas deixou sua história registrada. Se você tiver alguma loucura dessas mande pra gente.
Sexta-feira, último dia de aula antes do recesso escolar...
Toca o telefone:
- “Comissária Carla Lessa, por favor,”.
- “Pois não, sou eu”.
- “Carla você foi acionada para fazer um cabide JOI, apresentação 20h05 em CGH e amanhã cedo você volta”.
“Beleza... hoje é quinta, não tem muito trânsito, pego o ônibus das 18h30 em GRU e chego lá 19h30”, pensou. (Isso porque Carla fazia o trajeto contrário do ônibus GRU/CGH, por morar próximo a Guarulhos).
Assim que chegou ao aeroporto de GRU, estacionou o carro, foi até o D.O para pegar uma escala e foi para o ponto de ônibus esperar o das 18h30.
O horário avançou para 18h40 e nada do ônibus aparecer.
- "Moço... o ônibus está atrasado?”, perguntou para alguém.
- “Ah! hoje é sexta-feira véspera de férias, não tem nem hora para chegar".
- “Legal!!! A escala de vôo considerando que eu já estou lá em CGH e eu estou aqui em GRU ainda... ai me Deus! Se eu não chegar a tempo vão descobrir que eu me apresentei no aeroporto errado, vão considerar que agi de má fé. Vou levar uma advertência, seremos todos proibidos de nos apresentarmos em outro aeroporto, vou ter que me explicar p/ Sônia (Gerente de tripulação de cabine da época) e ela não vai nem querer me ouvir... como explicar que eu errei o dia da semana? IMPOSSÌVEL!!!”, Lamentou Carla.
Enquanto ela pensava numa solução, chegou uma amiga e desesperadamente ela perguntou:
_ “Oi Fiona! Vai para onde?
- “To fazendo curso de piloto, em CGH. Tenho aula agora, mas vou me atrasar por causa desse ônibus".
PLIM!!! Uma luz brilhou para Carla!!!!!
- “Vamos comigo. Meu carro está no estacionamento, fico em CGH, você volta com ele, deixa a chave na loja da TAM com as meninas e eu pego com elas amanhã", sugeriu.
- "Vamos pela Radial e pela Salim que é melhor, tem menos carro", disse a amiga de Carla, que conhecia melhor São Paulo.
Lá foram elas... Trânsito andando, as duas batendo papo, lembrando que há poucos dias tinha passado no Fantástico a história de uma comissária que veio de Santos na garupa de uma moto por causa do trânsito do ano-novo, e a amiga ia ao mesmo tempo explicando o caminho alternativo para Carla.
- “Pronto, chegamos na 23 de maio, vai dar tempo.... não! Não vai.... a 23 está parada, já são 19h:30, não vou chegar”, pensava Carla..
Quando já era quase 20h00 estavam ainda em frente ao Hospital da Face. Só por um milagre elas chegariam, mas não dava mais tempo de esperar um milagre.
-"Fiona, vou parar uma moto e vou pedir para ele me levar", disse.
-"Você está louca, não dá. É perigoso", retrucou Fiona.
_ “Não tem outro jeito".
Carla entrou com o carro no meio das pistas e bloqueou a passagem das motos. Ouviu alguns palavrões, mas colocou a cabeça para fora e começou a pedir para alguém levá-la.
O primeiro que parou Carla nem o deixou pensar.
- “Moço me leva até o aeroporto", implorou.
Ele nem respondeu ela já subiu na moto com o porta-casaco e a bolsa. Gritou para a amiga deixar a mala com o pessoal do check-in que eles a entregariam. Carla colocou a mochila do motoqueiro nas costas, sentou-se entre ele e a caixa de entrega e foi ouvindo o barulho de torcida de quem estava nos carros e acompanhava a cena.
- “Aeeee conseguiu..." ou " vai rasgar a saia...", gritavam. (Naquele tempo só se usava saia).
-"Moça! Você é louca, nem me conhece... e seu não te levasse até lá?", perguntou o motoqueiro.
Enfim, 20h00 ela conseguiu chegar.
“Olhei no relógio e vi a temperatura: 15 graus... imagine! não estava nem sentindo.... Prendi o cabelo na redinha e entrei correndo pelo portão de pax... naquela época podia. Cheguei esbaforindo no DO, apresentei-me para a tripulação, com as bochechas queimavam. Contei só para as auxiliares o que tinha acontecido. Além de tudo, descobri que levaríamos uma checadora de extra conosco, portanto tive que engolir toda a adrenalina de uma vez, fazer cara de aeromoça e esperar o avião... que estava atrasado. Passados uns minutos, minha mala foi entregue pelos despachantes. Fui voar como se nada tivesse acontecido”, relembrou.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A visão do assento 7B


Texto que meu amigo Fernando fez pra mim.

Confesso que até a bem pouco tempo nunca dei bola às aeromoças - acho que sou uma exceção entre os fetichistas - elas pareciam uma parte menor naquele mundo dos aeroportos, viagens aéreas, gente falando um monte de idiomas e viajando pra lugares que nunca sonhei existirem.

Aeromoças, comissários e pilotos ocupavam um espaço restrito e bem catalogado em meus arquivos: no arquivo “a”, aeromoças se resumiam a uma admirável estampa pré-fabricada, com os cabelos irritantemente bem arrumados, uniformes impecáveis e adereços igualmente arrumados e padronizados. Isso para não citar a maquiagem, engomadíssima. Parecia uma mulher feita em massa – muito bem feitas, mas idênticas entre si. Tão produzidas e de bom gosto que pareciam anular as qualidades fundamentais das mulheres: as diferenças individuais.

E iguais não só no visual, também no comportamento. Sejam as que atendem as viagens nacionais ou as internacionais (tudo bem, neste tema não sou lá um especialista, mas tenho lá algumas milhas), sempre vi meninas sorridentes e com aqueles irritantes cabelos padronizados ocupando o espaço certo dentro do corte perfeito e do uniforme milimetricamente cortado. Sempre tive a impressão que primeiro faziam o uniforme depois achavam uma mulher (e um sorriso) que entrasse perfeitamente nele.

Com os comissários, a situação seria bem semelhante, com a diferença que sua alma deveria ser a mesma de uma aeromoça: feminina, alegre e sorridente. E até seria fácil de se adequarem, já que seriam aeromoças teoricamente mais sorridentes, já que por serem catalogado como do gênero masculino, os comissários não têm TPM.

Quanto ao resto do pessoal de bordo, aqueles outros sujeitos que entram na cabine, não sei. Mas para ser comandante, o sujeito deveria ter um bom sotaque carioca – sempre – e falar um monte de coisas técnicas com ar blasée pelo sistema de auto-falantes do avião. Nunca soube exatamente o que falavam, mas a tradução para o seu carioquês nativo seria algo do tipo: “Aí, meux irrrmãos, tamox voando a uma caralhada de péx de altura a uma velocidade absurrrda. A temperatura lá fora é muuuiito frria e eu tou aqui pilotando com os doix péx no manche só pra sacanearrr”.

Tudo bem, o comandante deveria ter lá seus momentos de stress, mas nunca vi um que tivesse qualquer sinal de cansaço depois de muitas horas pilotando. Ali, na saída do vôo, sempre estava lá em pé com o maior dos piques se despedindo dos passageiros. Talvez por ser um dos poucos trabalhadores a bordo que não tiveram de fazer aquelas mímicas terríveis para explicar onde estão as saídas de emergência e como é que iriam cair as tais das máscaras de oxigênio que deveríamos colocar no rosto com elásticos (elásticos, aliás, que as aeromoças nunca colocam nas cabeças para não estragarem os minuciosos penteados padronizados).

Bom, tudo isso é como eu via o mundo dos que trabalham dentro do avião. E olha que eu comecei a viajar naquele tempo em que a gente ia apertadinha dentro de um Electra e que as comissárias (acho que só existiam comissárias do sexo feminino naquele tempo) se ocupavam de encher a barriga dos passageiros com mil pratinhos, lanchinhos e sobremesas. Isso mudou, assim como minha visão das comissárias. Acho que o que as humanizou foi uma que um dia deixou cair um pouco de refrigerante em minha camisa. Acho que foi a primeira vez que falei com uma sem que ela sorrisse com aquela cara de Barbie. Pegou paninhos, papéis e mais paninhos até que eu estivesse quase completamente seco. Ela pode ter visto aquilo como um terrível acidente aéreo, mas eu vi como a quebra de um paradigma. Soube que ali havia alguém que se preocupava com outra pessoa e não só uma boneca linda e sorridente a repetir protocolos e procedimentos padrão. Eu juro que até vi alguns fios de cabelo escaparem do indefectível penteado.

Bom, isso foi até conhecer a Lu Tonon. Essa, apesar de já a ter visto “montada” de comissária (e nunca do banco de passageiros, o que é uma pena), acho impossível de ver como alguém presa a procedimentos programados. Cortesia em seu caso é parte do temperamento. Ela não precisa ler nenhum manual para ser simpática e inteligente. Mesmo fazendo a coreografia das saídas de emergência. E olha que a dancinha é bem ridícula.