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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Extra e suas “sinas”

Extra pra quem não sabe é o tripulante que viaja sem estar trabalhando naquele vôo.

SINA - Número 1 - para os que estão de folga ou férias...

Invente curtir sua folga em qualquer lugar fora da base e viverá uma "emocionante" aventura.
Sabe quando você vai chegando no Chek-in e de longe o despachante já emite aquele olhar como que dizendo: "- está lotado", mas você corajoso vai tentar mesmo assim. Na verdade você só precisa passar pelo portão de embarque e tentar a vaga contando com a bondade do comandante, que a essas alturas já deve estar na porta do avião. O despacho vai fazer de tudo pra embaçar, mas não desista.
Na porta do avião já tem uns três extras na sua frente:
“- ola comandante, senhor me leva de extra?”.
“- Claro fique a vontade”. Risos...
O jeito é aguardar a contagem, os outros extras estão encaixados nos Jumps Seats.
O suor toma conta porque a final você conseguiu folga em plena páscoa pra comemorar com sua família e o que é melhor, você conseguiu pegar seu passe com antecedência.
A contagem esta terminando e ufa! Sobrou um lugar no meio do avião. Que bom você acomoda sua bagagem embaixo das pernas porque os bins já estão lotados. Mas enfim, sentado.
Aí, aí, repito aí, o seu crachá vai ser responsável pelo resto do estresse da viagem. Tenho uma amiga que diz que o que mais ela inveja na minha profissão é o meu crachá. Porque todo mundo puxa papo comigo.
Bom, mas “meu crachá me condena”.
Pode esperar que, uma vez sentado de extra com um crachazinho, vai ser bombardeado de perguntas e sempre as mesmas:
- Vocês têm folga?
- Como que é o trabalho de vocês. Voam todos os dias?
- Vocês têm tempo pra conhecer os lugares ou têm que voltar rapidinho?
- Você voa pra fora ou só aqui dentro mesmo?
- Deve ser gostoso né? Você não tem medo?
- Já passou por algum perigo?
- Quando eu era mais nova eu sonhava em ser aeromoça.
- Agora não é mais aeromoça que se fala é comissária de bordo.
- e da pra namorar?
Nem diga como está o seu sono a essas alturas do campeonato porque você acabou de chegar de um madrugadão.


Sina 2 - Dedicada aos extras da Ponte.
Você combina um horário com seu namorado no aeroporto Santos Dumont e vai tentar a primeira ponte pra aproveitar o seu dia de folga. Não consegue. Espera a segunda e aí aparecem umas duas tripulações de extras remunerados na sua frente. Você, com cara de poucos amigos, não embarca e o seu namorado está lá firme e forte. Uma ligação e diz: - “amor, não consegui, vou tentar a próxima”. E ele: “-Fazer o que né”. Vamos pra terceira ponte. Tem uma vaga no jump, você está quase feliz, quando de repente chega um comandante e lá foi seu lugar. Não se preocupe está saindo outra ponte no avião da congênere e finalmente você consegue um lugarzinho. O avião decola e quando você menos espera, vem o speech: Senhoras e senhores aqui é o comandante tal e venho lhes informar que o aeroporto Santos Dumont fechou devido ao mau tempo. Vamos alternar para o Galeão.
“Ai, meu namorado vai me matar...” você resmunga.

SINA 3 – Poucos vôos e muita gente
Sabe aquelas cidades tipo Londrina, que é o meu caso, onde só tem três vôos por dia e muita, mas muita gente pra embarcar. Então é assim: você consegue três dias de folga num final de semana, “que legal dá pra ir”, você pensa. 9h20 tem um vôo, você chega cedo, mas já te fulminam com o olhar de overbook e mais três extras, você dança. O próximo é só 16 horas, você espera e consegue. Quando está pra pousar, o aeroporto do destino fecha e o jeito é alternar para Presidente Prudente (250 Km de distância) e fazer o trecho de ônibus o que leva pelo menos três horas. Chega em Londrina por volta das 21 horas e lá se foi o seu primeiro dia de folga. Aproveita sua família ao máximo no segundo dia porque o terceiro terá que ser dedicado para o retorno que com certeza não vai ser diferente.

SINA 4 - A família
Pior de tudo é quando milagrosamente aparece na sua escala um ótimo vôo, tipo Manaus ou Fortaleza inativo. Cheio de alegria, é claro, você vai querer partilhar esse momento com alguém tipo: namorado (a), marido, mulher, irmãos, mãe, avó, amigos sei lá, alguém especial. Você tira a passagem rip e fica contando os dias, para que tudo certo. E passagem tirada é passagem tirada. Não tem volta. Chega o dia. Você vai com a pessoa paro saguão (o vôo está lotado é claro), então pede ao seu rip pra esperar um pouco até que você vá falar com o comandante, mas qual é a sua surpresa quando chega no D.O, digita sua chapa e aparece “roster changes” . Isso mesmo teve alteração de escala pra você e irá fazer um Ribeirão Preto/ Goiânia com pernoite em Brasília. VOCÊ QUER MORRER. O que fazer com o seu ente querido que está lá fora ansiosamente aguardando sua volta. Chora, reclama, esperneia, num tem jeito, vá voar e mande o seu para casa. Parece mentira, mas não é. ACONTECE COM AS MELHORES FAMÍLIAS.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

UP

Estive pensando sobre a palavra “up” no inglês e muito usada pela língua portuguesa em vários sentidos. Como substantivo, por exemplo, significa elevação, movimento ascendente, boa sorte. Como verbo é tudo que te põe pra cima: subir, levantar, aumentar, elevar, erguer. Se alguém disser que você precisa dar um “up” na sua vida, é pra você “levantar mesmo, sacudir a poeira e dar a volta por cima”. Ou então quando você precisa dar um “up” na sua aparência. Vai lá corta o cabelo, põe cílios postiços, faz plástica e tal.
O up é sempre algo pra melhorar. Quando você lê a mensagem no seu computador “update”, é pra atualizar dados, melhorar programas e tal. E quando usamos “up” para interjeição serve até para dizer: “vamos”, “levanta”, “de pé”. Resumindo é uma palavra muito positiva. Tudo que há de bom. Você como uma coisa boa e diz: “Nossa isso me deu um up”. Um programinha novo com seu amor é suficiente pra dar um “up” no relacionamento. Gente o “up”é lindo.
Mas, porém, todavia, contudo, entretantoooooo. Nem tudo que brilha é estrela. Quero me referir ao tal do “upgrade”. Que deveria ser melhorar o grau, atualizar, aprimorar. Eu disse bem: “deveria ser”. Conjuguei no futuro do pretérito porque deveria, mas não é.
O upgrade na aviação é o cara que recebeu por sorte, ou por muita “miguelagem” a chance de ir pra frente na classe Premium que é um pouco mais privilegiada em termos de conforto, mais espaço etc. Esse cara muitas vezes acaba com qualquer referência da palavra up. Porque ele é “down”, o comportamento dele não cabe ali. Quer beber todos os vinhos, experimentar todas as comidas. Num gosta de nada, quebra a poltrona, acende a luz, escuta música alta, te chama mil vezes e ainda fica chamando o amigo que está lá na y/c pra vir conversar com ele ali e ver o quanto ele está confortável.
Sem contar com aqueles que chegam à porta do avião dizendo que no check-in informaram que ele poderia receber um upgrade depois que chegasse ao avião. Já vi muito também aquela que chega chorando na porta que dizendo que está operada da coluna e não aguenta sentar 12 horas lá trás. Fora os que dizem ser primo, amigo, sobrinho do fulano de tal que é diretor de num sei onde.
São várias as desculpas pra se conseguir um upgrade. Mas me lembro de uma situação muito engraçada. Um senhor de idade vestido com camisa preta de gola clerical, durante o vôo sem que ninguém percebesse sentou-se na Business. Opa ninguém vírgula. Meu amigo viu e educadamente foi até ele e pediu pra que ele voltasse ao seu assento. O homem foi. Meia hora depois na calada da noite o mesmo homem voltou, deitou lá e cobriu o rosto. Mais uma vez o meu amigo foi até ele e pediu pra ele voltar. Não contente o senhor tentou uma terceira vez e argumentou com meu colega que ele era padre. Educadamente meu colega respondeu. “Melhor ainda. Sendo padre o senhor tem um coração misericordioso pra entender que temos 175 pessoas lá trás também querendo vir pra este lugar”. O homem voltou definitivamente para se convalescer com os demais passageiros da y/c.
Let’s go UP!!!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

adios cigarrillos

Bom dia pessoal. Acabo de chegar de Frankfurt totalmente congestionada. Praticamente estou falando BINHA IRBÃ e BEU IRBÃO DÃO VIERAM ONTEM. Isso porque inventei de conhecer um Pub lá. Lugar bem pequeno que rolava um Blues. A galera que frequentava era à la geração 65. Tinha umas figuras exclusivas tipo um cara com uma asa de borboleta nas costas ou sei lá se ele tinha síndrome de Sininho. Mas ele estava abafando com as asas transparentes. Eu já tive uma daquelas quando fui anjinho na procissão de Corpus Christi. Outros roqueiros mesmo com pulseiras de heavy metal, cabelos longos e botas. A banda bem Ray Charles e Wiliie Nelson. Mas onde quero chegar é na parte do intupibento do beu nariz. Eu descobri que sou alérgica ao cigarro e na Alemanha o cigarro é liberado em ambientes fechados. Consegui ficar ali por meia hora. O suficiente pra eu não estar mais respirando até hoje. Socorroooooo.

sábado, 11 de setembro de 2010

Manual do bom comportamento

Se um comissário pudesse editar um manual de A a Z - sobre o comportamento ideal de um passageiro, seria assim:

Acomode-se o mais rápido possível sem reclamar da poltrona.
Bom humor é sempre bem vindo.
Crianças comportem-se como anjos, os comissários agradecem.
Diga sempre: Por favor, dá licença e muito obrigado.
Evite tumultos durante o embarque.
Favor não empilhar as cumbucas para devolver as bandejas.
Gula é pecado.
História para conseguir Up grade não cola.
Informe-se sobre suas conexões antes de entrar no avião.
Já está com fome?
Limpe o espelho do toalete assim que escovar os dentes.
Mantenha seus cintos atados durante todo o vôo.
Não toque a chamada de comissários mais de uma vez.
Ouça todos os speechs para não ter dúvida de nada.
Pare de beber assim que acabar o serviço de bordo.
Quando pegar seus pertences, não bata a porta do Bin.
Relaxe e a aprecie o vôo.
Selecione bons livros para se entreter.
Tenha consciência ao usar o toalete.
Use uma manta só.
Vigie se seu companheiro não está roncando.
Xiu! Tem gente dormindo.
Zele pelas suas coisinhas, principalmente pela sua necessaire.

Mas, se o passageiro pudesse escrever o mesmo manual, a versão seria assim:

Até que enfim consegui embarcar.
Bem que eu preferia o corredor.
Como eu vou guardar essa mala aqui?
Depois o comissário ajeita pra mim.
Eu quero uma água.
Falta muito para o jantar?
Guarda meu casaco.
Hoje vai ter turbulência?
Inclusive eu era amigo do comandante Rolim.
Jornal, por favor?
Luz de leitura é onde?
Mais uma vez não embarcou a comida que eu pedi.
Não vôo mais nessa companhia.
Onde eu coloco o meu berimbau?
Pode visitar a cabine?
Que poltrona ruim!
Roubaram meu travesseiro.
Sanduíche de novo?
Tem água tônica? Suco de tomate? Gin?...
Uma coca-cola, por favor?
Vixi mãe! O que foi isso?
Xinga ele.
Zicado. Esse comandante tá zicado.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Cinderela de Segóvia


Segóvia. O nome já nos remete a pensarmos em reino, principado,idade média, sei lá. O reino de Segóvia. Foi pra lá que fui. Foram duas horas de passeio só, mas me senti uma princesa nos castelos e muralhas de Segóvia. Eu e mais quatro loucas da minha tripulação, chegamos a Madri, cansadas do vôo, mas metemos as caras. Vamos??? Saímos do Hotel somente com a referência da estação Chamartin e lá fomos nós. Na estação olhei rapidamente o mapa pra achar a tal estação que é linha azul em direção a Hospital Sofia. Nossa linha do El Capricho é verde. Muito fácil de achar chegamos a uma estação de trem enorme. Mais ou menos seis andares. Fomos comprar bilhete. Tinha um trem dentro de meia hora que custava 30 euros e outro dali uma hora e meia que custava nove euros. Em qual nós fomos? Nem preciso escrever. No mais baratoooooo. Enquanto isso, fomos almoçar.
Hora do tremmmm. Gente que delícia deslizar nos trilhos silenciosamente. Não é como aqueles trens que andávamos antigamente que as linhas dos dormentes iam fazendo tandamtandam, tandam tandam. Sutilmente ele chega e sai, quase que imperceptível. Em meia hora chegamos ao meio do nada. Era Segóvia, mas cadê o castelo? Ah entra naquele ônibus ali parado, alguém nos informou e sem pensar em nada entramos. Motorista por favor, queremos ver algo bonito, onde tem? Na última parada. Plaza das artilharias. Genteeeeeeee que lindo um arqueduto enorme. Não sei qual a função deste monumento, mas um dia foi útil. A nossa correria era tanta que tínhamos que decidir entre tirar fotos e admirar a olho nu.
Sobe as escadas. Rápido. Mas o que tem lá em cima? Nada, Desce tudo. Senhora por favor, onde tem um castelo?
Para lá. Corre gente. Nosso tempo está contado. Chegamos. É o Castelo! Tira foto, tira foto. Moço o que tem pra lá na ruazinha? – É o castelo. Hum então isso aqui ainda não é o castelo é a catedral. Corre gente temos que chegar ao castelo. Enfim ele aparece. Inspiração de Walt Disney para Cinderela. Não acredito que estamos aqui. É muito lindo. Mas nosso trem vai partir em meia hora e agora? Desce tudo corre, corre, desvia aqui, entra em ruelas, ufa conseguimos o ônibus estava partindo da Plaza das artilharias era pegar ou pernoitar. Aliás, essa era a vontade de todas; pena que já tínhamos comprado a passagem de volta. Volta? Lógico que tem volta.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Histórias de Balanceiros



Que o ser humano tem manias diversificadas, não há dúvidas. Mas, quando você se pega olhando para uma esteira de bagagens durante um desembarque... Sabe aquele tempo que você fica ali esperando a sua mala e ela nunca chega? Então, ali você vai ver cada coisa que só o balanceiro (funcionário do setor de bagagens) acredita.
São malas coloridas; quadradas; redondas; com florzinhas; Hello kitty; de oncinha; da Minie; malas sem alça; malas em formato de coração; malas baús; malas, malas e malas. Se fossem só malas que passassem pela esteira ainda ia. Passa cada coisa! Berimbau, corneta, autorama, pranchas, geladeiras, cachorros, gatos, calopsitas, pneus, motor de poupa. Bom, tudo bem vai. É aceitável. Agora imaginem vocês, que outro dia eu estava esperando minha “gordinha”, (apelido que dei à minha mala), quando de repente eu vi um galho seco passando. Não! Não era possível. Um galho simples e seco de uma árvore qualquer.
O que será que a pessoa ia fazer com um galho daquele. Trouxe de tão longe. Será lembrança de um lugar inesquecível? Enfeite exótico? Coleção? Não dava para entender, porque não era época de natal para se criar um pinheirinho, mas enfim, mania cada um tem a sua e questionar não cabe a mim. Mas, como minha curiosidade é maior do que o galho, eu fui perguntar ao balanceiro:
- “Esse galho é bagagem despachada?”
- “O pior que ele ta rodando aí há horas. Acho que a pessoa esqueceu, ou está com vergonha e vem buscar depois”, disse ele.
-“Mas que idéia, trazer um galho”, continuei.
- “Você num viu nada”, ele sorriu e continuou me contando:
Conhece a história do gato morto? Dizem que uma vez foi despachado um gato siamês morto. Mas os donos não falaram nada com medo de não poder despachá-lo naquelas condições. O pessoal da base despachou como se o gato estivesse dopado. Ele estava deitado na casinha e ninguém questionou. Chegando ao destino, os balanceiros viram que o gato estava morto e no desespero em terem que dar a notícia à família, de que o gato morreu durante o vôo, providenciaram outro gato bem parecido com aquele.
Quando os familiares foram recebê-lo, não conheciam muito a aparência do gato e aceitaram aquele. Mas, qual foi o susto quando viram o gato ressuscitado, porque a dona já tinha lhes avisado que estava mandando o gato morto para ser enterrado na lápide da família.

sábado, 8 de maio de 2010

Mãe

Gente eu sou fã da doçura da língua portuguesa. Pensa bem, como é delicioso falar "MÃE". Parece que estamos falando EU TE AMO. A palavra por si só já é uma declaração de amor. É claro que já está banalizada. Nossas necessidades diárias nos impedem de ver quão doce e sublime é a palavra; de tanto que falamos. Lógico sempre chamamos a mãe pra saciarmos algum interesse próprio. Afinal, que seres egoístas somos nós. Aprendemos por instinto recorrer àquela que nos ampara e nos socorre; que nos ama incondicionalmente. Ela tem olhar, tem gesto, tem palavras, tem carinho, tem colo, tem sabedoria. Antes de manifestarmos nossas inquietações ela já sente. Por isso que eu acho que mãe é o anjo que Deus deu a cada um na terra. Eu tenho várias delas. Parabéns mamães!!!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Ser Comissário é:


Ser Comissário é...

Acabar de fazer o speech dizendo todas as bebidas que serão servidas durante o serviço de bordo, dar dois passos e o passageiro perguntar: "O que tem pra beber?" Aí você sorri e repete tudo de novo: - "Coca, Coca light, guaraná, guaraná light, suco de laranja, água, cerveja e água de coco".
Ser comissário é... Você sair de casa puxando a mala, na correria pra não se atrasar e passar um camarada ao seu lado pedalando vagamente uma bicicleta e dizendo: "Que vidão, heim!!! Só viaja".
Ser comissário é... Chegar ao D.O (departamento operacional onde as tripulações se reúnem) após as etapas: Belém / São Luís /Brasília / São Paulo e ver que foi acionado pra fazer um Curitibazinho bate-e-volta.
Ser comissário é... Escutar reclamações de assento que não reclina; de família que está separada; de frio ou de calor; de comida especial que não embarcou; de falta de opção de lanche; de atraso; de fone de ouvido; de monitor que não funciona; de mesinha que não trava; etc, etc...
Ser comissário é... Ajudar uma senhora a carregar a bagagem de mão de no mínimo 10 quilos até sua poltrona (quase no fim da aeronave), arrumar espaço no bin, acomodá-la e não ouvir nem: "Muito obrigada"!
Ser comissário é... Ver a família reunida, em pleno feriado nacional, para um churrascão daqueles e ter que sair para um vôo de cinco dias.
Ser comissário é... Acordar 5h30, pegar o ônibus das 7h para Guarulhos, onde deve se apresentar às 9h30 e ainda assim não conseguir chegar a tempo.
Ser comissário é ...Chegar de vôo em pleno domingo de manhã, com folga de mais dois dias e lembrar que não pediu passe para ir para casa.
Ser comissário é... Tentar embarcar de extra na primeira, na segunda, na terceira, na quarta Ponte Aérea. Ufa, que sufoco !!!
Ser comissário é... Ter um Manaus inativo, tirar uma passagem para seu amor, amigo ou familiar e, quando chegar em Brasília, sua programação mudar. Já era.
Bem, brincadeiras à parte, gostaria agora de ocupar este espaço para homenagear todos os meus amigos que diariamente enfrentam essas e muitas outras situações. Sem medir esforços, somos uma classe de guerreiros. Guerreiros que, ao sair de casa e deixar suas famílias, sabem que vão enfrentar muitas lutas, mas que, sobretudo, vão conquistar mais uma vitória. Vitória essa que atribuo à grandeza do caráter de cada um de nós que às vezes passamos uma, duas, dez ou doze horas velando pela segurança de cada passageiro. Vitória de sentir uma missão cumprida cada vez que levamos os passageiros até o desembarque e os entregamos de volta aos seus familiares ou, quem sabe, aos negócios. Vitória, Vitória e Vitória.

Loucuras para chegar no horário 2

Achei que a loucura da história anterior fosse tomar o pódio da liderança, mas me enganei. Tem muito “louco”, no bom sentido, em nosso meio. Acreditem vocês, que há uns dez anos atrás, o comissário Nando Moraes reinou neste quesito de fazer loucuras para chegar no horário. Ele morava em Mogi das Cruzes e iria se apresentar pela primeira vez em Guarulhos. Era horário do rush da manhã na marginal Tietê.
Vindo de Mogi, Nando teria que ir até o metrô Tatuapé para tomar outra condução para o aeroporto. Ao ver o trânsito todo parado na marginal foi tomado pelo desespero e começou a suar frio com aquele pensamento que todos temos: “Ai meu Deus, o que que eu faço? Não vai dar tempo. Caramba tá tudo parado...”. O tempo que nessa hora não nos ajuda, passa muito rápido. Comissário novinho na época, Nando não sabia mais o que fazer e já estava ensaiando todas as desculpas possíveis para falar para a chefia. Até que de repente, ao passar pelo km 22 mais ou menos, ele teve uma luz. Olhou para seu lado esquerdo e viu o arco da Sabesp. Não teve dúvidas:
- Motorista pára o ônibus. Pára por favor.
- Mas, eu não posso abrir a porta aqui.
- O senhor não está entendendo, eu preciso sair agora.
- No meio dos carros???
- Sim, pode abrir por favor.
Com a insistência, o motorista abriu a porta, Nando saiu correndo com mala, porta casaco e quepe na mão, porque naquela época se usava. E lá foi ele, pulou a mureta da marginal e subiu no arco, ou melhor, atravessou o Tietê velho de guerra pelo arco da Sabesp. (Fico imaginando quem estava assistindo esta cena. Um homem de terno e gravata, mala e quepe equilibrando-se naquela escadinha).
“Assim que cheguei do outro lado, entrei no estacionamento do Extra e tinha um único taxi com o porta-malas aberto acolhendo uma senhora”, lembrou Nando.
- Não a senhora não pode ir nesse taxi, interrompeu o comissário.
- Como assim?
- Por favor, eu estou atrasado, tenho que ir para o aeroporto, a senhora precisa quebrar meu galho.
A mulher concordou e o taxista levou Nando até GRU. Ele conseguiu chegar.
- Entrei na sala de briefing suando como nunca, mas disfarcei bem, ajeitei a gravata e ninguém percebeu nada. Talvez seja por isso que hoje colocaram um portão ali para ninguém repetir a dose, concluiu.

sábado, 10 de abril de 2010

A pele

A pele é o tecido que nos cobre. Tem dia que voce esta de bem com ela e tem dia que ela quer te provocar. A pele do corpo é de boa e quase nunca te incomoda, mas a do rosto !!!
Tem dia que voce acorda com espinhas, se irrita, quer cutucar. Tem dia que são as olheiras, tão profundas que parece olho de guaxini. Fora os pés de galinhas que não ha corretivo que ajude. Pior são as pessoas que não disfarçam quando conversam contigo. Voce esta falando um assunto importante e percebe que a pessoa esta te olhando além, tipo percebendo aquele cravo preto que esta ao lado do seu nariz. Voce perde até o fio da meada do assunto que estava falando. Ou então aquele que chega e te fala: _ hum ta com a pele boa heim. Dando uma indiretazinha de que sua noite foi boa. E aqueles mais diretos que falam na cara dura: _ Nossa voce ta acabada; não dormiu a noite não?
Cremes? Cada dia aparece um diferente e voce precisa se atualizar. Fazer um acompanhamento diario nas revistas de beleza como um economista faz na bolsa de valor. Agora o premio nobel da ciencia descobriu um produto chamado Aquaporine sei la e todas as empresas do ramo estão na luta para apresentar o melhor produto. Enquanto isso o negocio é assumir. Eu assumo meus quase 40 anos e quem quiser é que me julgue. Eu estou bem obrigada. Ah desculpa a falta de acentos nas palavras porque esse teclado aqui em Paris é louco. Até a proxima.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Viva Bem

Olá gente. Nossa quanto tempo que não escrevo!!!. Pra compensar fiz um videozinho com minha mensagem...

quinta-feira, 11 de março de 2010

aprendendo a falar

Ola, preciso registrar aqui as primeiras frases que o Vinícius está falando, antes que eu me esqueça.
A primeira frase que ele falou foi: - "esse não", ao me imitar quando pegou um produto no supermercado que eu não iria comprar. Eu disse "esse não"e foi o suficiente pra ele repetir o resto da noite.
depois:
"Eu vo diigi o omsinu" - Ele fala isso a cada ônibus que vê na rua, chega encher de tantos ônibus que passam. Será que ele vai ser motorista de ônibus????/
"MOMO MAU"- Lobo mau
"BABABI, BABABÁ"- Ali Babá
"CAPAU"- Pica-pau (eita desenhinho que ele adora).
"qué quepeca" - quero a chupeta. Essa é básica - falam com um pouco de mimo.
"dexa eu i junto" - está foi questão de sobrevivência ao me ver sair.

Mas, o mais interessante nisso tudo é o método de repetição deles. Acho que seria bem viável se fizéssemos isso ao aprendermos um idioma diferente. REPETIR MUITAS VEZES até entrar na cabeça.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

no ônibus

Tararararararararannn Tarararan Tararan

– Alô (interrompendo o tema "Pour Elise" do toque de um celular)

– Oi amor, já estou no ônibus, mas tá um trânsito na marginal. Você vai à sauna?

– Vê se não chega tarde, fala pra tua mãe que assim que eu chegar, eu vou buscar a roupa, que ela lavou pra mim.

“Vou te ensinar vender caki, cabou caki vc vai embora” (desta vez é um funk pesado que toca).

– E aí cara (atende um comissário carioca), vai sujarrrr a parada, fui acionado e só volto na terrrrrrça.

– Pô, vamossssss pegar uma onda na quarrrrta, eu te ligo assim que chegarrrrrrr. Pô curte a parada aí por mim, foi mal. Abraço manero aí.

Nessas alturas os vidros do ônibus já estavam embaçados e o trânsito tinha progredido alguns metros.

– Que horas é a sua apresentação? – Uma comissária para outra.

– Aos 45 e a sua?

– A minha aos 30. Ai, menina, e esse trânsito que não anda !!!

– Vou ligar para escala. Tu, ti, tu, tu, tu, tu, ti.

– Está ocupado, pra variar.

– O que você vai fazer em Paris?

– Ah, vou dormir, depois vou ao Carrefour.

– Você não vai na IKea?

– Nem sei. Acho que não estou precisando de nada, mas...

Pu, pin, pun, (sofisticado esse toque)

– Oi, (esse não pode ser identificado, mas é menino)

– Já estou com saudades. Posso te ligar, de novo, assim que eu chegar no D.O.?

– Não vai abusar na balada, heim? Hum, tô de olho em você.

– A gente pode se ver quando eu voltar?

– Quero beijar muuuuuuiiiitttooo.

– Hahaha, bobinho.

– Te ligo daqui a pouco, já estou quase chegando em Guarulhos.
“I kissed a girl, I liked ...” (toque bem despojado).
_ PQP , meu! parece que só tem eu pra voar. Eu tinha que ser acionada logo hoje. Não queria perder a Skol Beats por nada amanhã. Mas também pudera viu, essa escala eu num sei, Meu, se liga, eu não acredito que vou voar, carambaaaaaaaa.,

O ônibus estava praticamente lotado, mas as conversas paralelas eram bem definidas. Acho melhor dormir um pouquinho antes que eu fique sabendo da vida de todo mundo. É um perigoooooooo.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

BYONCE


Os portões iriam abrir as 15 horas. Pesquisei antes pela internet para saber qual o melhor lugar para se deixar o carro estacionado, porque dizem que estacionamentos perto do estádio são caríssimos e perigosos. Shopping D eD, melhor opção R$ 20,00 para o carro e R$10,00 de traslado até o estádio. Ótima escolha, antes porém, bati uma macarronada no Spoleto. (HUm to fazendo muito merchand). 15 horas a van saiu já lotada e fomos nós em busca do portão 6. Não pegamos muita fila, mas tinha gente ali desde o dia anterior. Escolhemos um lugar na arquibancada azul. Distante do palco, mas com boa visibilidade. O sol era incompreensível, mas os ambulantes não paravam de oferecer capa de chuva. E a galera só fazendo OLA. Achei que fosse derreter. Bem dispersas haviam pequenas nuvens e que sem perceber foram se juntando. Até que lá pelas 17 horas o céu desceu. A princípio até aplaudiram a chuvinha que começou pra aliviar o calor, mas ninguém esperava o dilúvio. Era água, raio, e até gelo. Não tinha fim e nós ficamos firmes na rocha. Eu pensava: vai passar, vai passar, vai passar. A estas alturas a galera sumiu das arquibancadas. Foram se esconder dos raios. Eu junte a mochila embaixo do meu pé na tentaiva de protegê-la, até a ensaquei. Contudo, eu não percebi que uma bica de água descia entre as cadeiras e simplesmente encheu minha mochila. Quando vi celular, máquina fotográfica, carteira, bolacha, tudo boiando, mas eu estava ali firme e forte. Tudo pra ver a Diva. Não tardou muito a chuva parou e os reparos no palco vieram. Os telões cairam, o tablado cheio de poças de água, mas ninguém desistiu. Tudo pronto novamente as 19h40, uma voz baiana insulta os ânimos e a vibração é gigantesca. Ivete entra no palco e escorrega logo de cara, mas levantou poeira e mandou ver. Ä minha sorte grande foi você cair do céu, minha paixão verdadeira"... O Morumbi a essas alturas já se transformara num mar de gente. Eu nunca tinha visto aquilo. Pulamos muito e espantamos o frio que sentíamos com as roupas molhadas. Torci minha meia várias vezes. 22 horas o céu já estava estrelado como que esperando a estrela mor, que se aproximou do palco montada em um Aldi branco (olha o merchand). A galera vibrou numa sintonia flutuante. BYONCEEEEEEEEE gritavam. E ela ficou embasbacada com tanta gente : "I had no idea"... dizia ela. Até cobria os olhos dos holofotes para ver o estadio despencando de gente. Se sentiu muito amada e se soltou. QUE SHOWWWWWW. E olha que eu já tinha assistido o mesmo show em Paris. Mas a emoção lá não chegou nem aos pés do que foi no Morumbi. Halo ela repetiu umas três vezes como quem dissesse eu não quero ir embora. Foi digno de uma diva. BOm, Puts your hands up e não perca outra oportunidade dessa. Vale a penaaaaaaaaa.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Psicose (Parte V)

Sexta-feria. Noite chuvosa. Trânsito parado. Um clima tenso pairava no ar. Uma moça de crachá acompanhada de uma idosa entra no aeroporto de Congonhas, passo-anti-passo, toc,toc,toc e a senhorinha ao seu lado, mal podia acompanhá-la. Elas tentam se aproximar do Check in, Keu estava abarrotado de gente. Gente em pé, gente sentada, gente comendo, gente fumando, gente correndo, gente falando,gente, gente, gente.
A moça observa todos os movimentos ao seu redor e as batidas do seu coração aumentam, tum-dum,tum-dum, tum-dum. Elas estão chegando perto do Check in, aliás, elas já estão muito perto. Timidamente a moça esconde seu crachá para conseguir se aproximar um pouco mais; até kue, de repente o mal kue ela temia lhe sobreveio. Um olhar fulminante bateu sobre o seu crachá e akuele olhar como kue a hipnotizando foi lhe trazendo mais perto, mais perto. Ela estava com medo, com muito medo, mas não podia falar isso para a sua vozinha. A chuva lá fora tinha aumentado muito. Ela apertou a mão de sua avó e as duas ficaram ali estáticas sem nenhuma manifestação esperando o golpe, a facada kue psicoticamente estava vindo em direção a elas. Hi,hi,hi,hi. A mão da moça suava, mas ela tinha kue suportar e então como num suspiro ela se libertou dakuela tensão e foi enfrentar a fera, kue já estava em sua frente como kue espumando.
- “Tá tudo lotado hoje”, disse.
-“Moço nós estamos desde a uma hora da tarde tentando embarcar. Já fomos pra Guarulhos e mandaram a gente pra cá, dizendo kue por akui dava”.
-“É, mas num dá mesmo”.
-“Pois eu vou esperar”, respondeu firmemente a moça.
Faltava ainda três horas para a decolagem do vôo desejado por elas, a vozinha kueria voltar pra sua casa no interior do Paraná, então ela começou a se sentir mal.
“-Calma minha avó, nós vamos conseguir”, afirmou a moça.
Tudo parecia estar perdido, kuando de repente veio uma luz, parecia ser uma fada em meio akuele turbilhão, uma mocinha, aliás uma Super Moça veio lhes salvar das garras dakuela fera.
“-Podem relaxar, o vôo está trankuilo e sua vozinha vai conseguir embarcar”.
E assim, felizmente, terminou mais um episódio da série Pscicose.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A sina do primeiro turno


É comum entre tripulantes falar sobre a galera do “primeiro turno”. Na verdade não é a galera que descansa sempre no primeiro turno, mas é a galera mais nova na hierarquia, que na maioria das vezes não tem como escolher o turno e conseqüentemente dorme quando dá.
Na volta de um Paris, por exemplo, em que a decolagem é 17h ou 18h, você descansa naquele horário que na sua casa jamais dormiria tipo: das 20h00 às 00h00. Sono é a última coisa que tem. Você deita e todos os pensamentos do que deve fazer chegando ao Brasil vêm. Acompanhado deles você se lembra das discussões que teve com o marido, do filho, da aula de musculação, da balada, da prova que tem que fazer, das contas pra pagar... É uma mistura de pensamento e você vira pra cá, vira pra lá, sente todos os cheiros, escuta todos os choros, escorrega daqui, escorrega dali, mas vencido pelo cansaço você começa a piscar fundo. Na terceira piscada você vai realmente dormir, quando sente uma mãozinha, às vezes delicada, outras cutucadas te indicando que seu turno acabou.
Mas, onde quero chegar é que nem sempre o primeiro turno é o pior.
Na ida, por exemplo, principalmente em épocas que a decolagem é pra lá de meia noite, fora eventuais atrasos, o primeiro turno é ótimo, aliás é o mais cobiçado. Porém, os mais novos vão ficar para o segundo turno, tadinhos. Geralmente ele está lá capengando de sono já é alta madrugada quando o chefe ou o supervisor de classe vem perguntar:
- Você está beeeeeeeeemmmmmmm pra ir no segundo turnoooooooooooo? (leia isso imaginando aquela voz fantasmagórica de desenho animado, quando a personagem está com muito sono e as letras começam a embolar).
- sim estou, você responde já querendo pregar um durex nas pálpebras..
- Entãoooooooooooo qualquer coisa você me chaaaaaaaammmmmmmaaaa.
Aí você fica ali. Anda um pouco, tenta lerrrrrrrrrrrrrrrrr, num dá. Faz faxina na bolsa. Entra na cabine de comando, lá o sol está rachando e eles já estão chamando DAKAR, DAKAR...
Você sai da cabine sem enxergar mais nada e tenta ficar em pé porque se sentar está dominado. Aí, até o joelho cai, dá uns trancos, você dá uns tapinhas no rosto e bota fé porque sua hora vai chegar.