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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O sapato no divã


- Olá meu filho, diga qual o seu problema:

- Doutor eu ando muito triste ultimamente. Eu vim de uma grife muito famosa. Era até confortável. Conseguia fazer a cabeça da mulherada. Elas me usavam tanto que eu saia estragado. Claro que eu tinha que me submeter aos sprays, talquinhos, bolinhas anti-cheiros, naftalinas, sei lá.

Mas agora, doutor (chorando muito, ao ponto de ser ouvido na sala de espera). Mas agora, nada disso adianta. Não há nada que tire meu cheiro. Quanto mais sprays elas passam, mais eu fedo. Elas me guardam num armarinho, quando calçam minha prima sapatilha e coitado de quem abrir esse armarinho despreparado. Olham pra mim com nojo, com desprezo, aiaiaiaiaia doutor.

- Hum.

- O pior doutor é que o cheiro é o de menos. Desde que eu perdi a grife famosa para uma marca personalizada, que vem acompanhada de um selo de garantia de conforto, estou sendo rejeitadooooo. Eu me tornei uma pessoa dura, ríspida, esfolo os dedinhos, aperto. Elas não agüentam ficar comigo muito tempo, preferem aquela achatada da minha prima sapatilha buáááááá’ – (intensifica o choro). Sabe doutor, eu sei que elas têm razão por causa do meu salto. Outro dia eu li numa revista que “o uso do salto alto faz com que a mulher distribua maior peso e exerça maior pressão nos dedos dos pés, o que pode levar ao encurtamento nos músculos da panturrilha (batata da perna), provocar tendinite, fraqueza muscular, ruptura de ligamentos, entorse (virada de pé), esporões de calcâneos e tornozelos. Sem falar em aumento da lordose lombar, dores no joelhos, calosidade, joanetes e unhas encravadas, caso o sapato tenha bico fino” 1.

- Aham

- É o meu caso buáááááááááááá. A minha dona está com essa tal de lordose lombar. Ela me odeiaaaa. Está sofrendo muita dor e não sabe mais o que fazer. Ela e mais um monte de amigas. Doutor me ajuda eu quero me matar.

- Bem meu filho já deu o horário. Volte na semana que vem.

1 – SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL – Combatendo a Obesidade – artigo o risco do Salto Alto - Ano 9, no 106. P15.

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